Vertentes, situada ao pé da Serra da Taquara, no lado oriental, foi fundada em 1855, pelo Pe. Renovato Tejo que foi o primeiro vigário da freguesia. O mesmo sacerdote, com auxílio de alguns amigos conseguiu edificar uma capela sob o patrocínio de São José. Era um templo de grandes proporções devido a sua situação à margem de uma estrada muito transitada que levava até o Estado da Paraíba. Vertentes floresceu em pouco tempo.

15 fevereiro 2007

GIL RODRIGUES DOS SANTOS


Vertentes, quinta feira, 6:00 horas, 18 de fevereiro de 1960.
Acordo ouvindo um choro agoniado e baixo de minha mãe, perto da minha cama, debruçada à janela do sobrado da casa onde morávamos. Estava sendo informada, pelo meu tio Wilson, que se encontrava na rua de traz, sobre oacidente automobilístico ocorrido no dia anterior, que vitimara o meu pai, ceifando-lhe a vida de forma trágica e precoce, às vésperas de completar trinta e cinco anos. Naquele momento senti uma grande sensação de perda.
Sensação essa, que me acompanha até hoje. Havia perdido, de uma só vez: meu pai, meu maior amigo, meu ídolo. Aos meus olhos de criança, ele era um verdadeiro gigante. Lembro-me de um acidente doméstico que sofri, aos sete anos, dentro de um tanque de água, que abastecia nossa casa, quando me preparava para lavá-lo, escorreguei e cai, batendo com a cabeça naquele chão molhado e encoberto de lodo, causando-me um ferimento preocupante. Não sei com que rapidez o meu herói, que estava cortando o cabelo na barbearia dovelho Amaro Ferreira, surgiu como um super-homem, toma-me em seus braços fortes e, em companhia da minha mãe, leva-me “voando” em sua camioneta Ford
– F-1, modelo 1951, para o atendimento médico no hospital da cidade deSurubim.
Ao trocarmos alguns olhares, durante o trajeto entre Vertentes e Surubim, coberto em quinze minutos, percebi o quanto eu era amado, e como aquele homem era importante na minha vida.
Apóio-me em Joaquim Nabuco para definir a influência que meu pai, Gil Rodrigues dos Santos, teve sobre minha formação: “quaisquer que fossem as influências de país, sociedade, arte, autores, exercidas sobre mim, eu fui sempre interiormente trabalhado por outra ação mais poderosa, que apesar, em certo sentido, de estranha, parecia operar sobre mim de dentro, do fundo hereditário e por meio dos melhores impulsos do coração. Essa influência,sempre presente por mais longe que eu me achasse dela, domina e modificatodas as outras que, invariavelmente, lhe ficam subordinadas. É aqui o momento de falar dela, porque não foi uma influência propriamente da infância, nem do primeiro verdor da mocidade, mas do crescimento e amadurecimento do espírito, e destinada a aumentar cada vez mais com o tempo, e atingiu todo o seu desenvolvimento quando póstuma”. Ele achava que o homem não foi feito para a derrota. Ele podia ser vencido, mas não destruído.
Nasceu, em Vertentes, a 22 de fevereiro de 1925, filho de Francisco Zacharias Rodrigues dos Santos e Amélia Ferreira Rodrigues dos Santos, tendo como irmãos: José, Lauro, Maria José, Hilda, Francisco, Wilson, Rubem, Maria Erotildes e Terezinha (sobrinha – irmã). Casou-se com a professora Neusa Spinillo Rodrigues, tendo nascido dessa união quatro filhos: Vasco, Vera, Vanda e Varo.
Iniciou seus estudos no curso primário, aos seis anos de idade, concluindo-o, para em 1937 submeter-se ao antigo curso de admissão ao ginásio, uma espécie de vestibular a que era submetido o aluno concluinte do curso primário para ter acesso ao curso secundário, no Ginásio de Limoeiro.
Foi aluno dedicado e aplicado, tendo logo, a partir do 2.º ano de ginásio ocupado os primeiros lugares de sua turma. Preocupação que o acompanhou até a Escola Superior de Agronomia de Pernambuco, onde fora graduado nas ciências agronômicas, em 1949, não por pura vaidade, mas como conseqüênciada sua luta sem trégua em busca do conhecimento e do saber.
Colecionava amizades no seu ambiente, quer na escola, quer no contato direto com seus familiares e amigos. Como era seu intuito, ainda jovem e entusiasta fora chamado para servir sua terra natal, ficando à frente do Posto do Fomento Federal, como primeiro passo de todo profissional que sonha em ser útil, àqueles que o encorajarame o estimularam.
Era um homem irrequieto, embora vendo seu sonho consumado, admitia que não havia limite para a ação daqueles que não acreditam na luta sem horizontes de glórias. Deixa o Fomento Federal, sendo nomeado para a Secretaria da Agricultura de Pernambuco, sagrando-se o pioneiro na implantação das famosas “rodas d’água” - equipamento arquitetônico e inovador daquele sistema de irrigação do Rio São Francisco, na cidade ribeirinha de Cabrobó, em 1952.
Seu feito leva-lhe ao Estado de São Paulo, em busca de especialização em irrigação e defesa do solo, concluindo sua pós-graduação na Escola deAgronomia de Piracicaba, objetivando uma melhor utilização daquelas paragens enriquecidas pelas águas do vale do “velho Chico”.
Regressando ao seu Estado de Pernambuco, após se consagrar de forma brilhante em seu curso de especialização, reassume suas funções em Cabrobó, no ano de 1955, para logo iniciar a montagem e instalação de um engenho decana de açúcar, na ilha da Assunção, onde se produzia mel de engenho e rapadura.
Após concluir os trabalhos de implantação do engenho experimental e ter participado do projeto inicial do plantio da cebola, que fizera com que aquela cidade e a erva bulbosa ficassem famosas, volta à sua terrinha, aos pés da Taquara, para assumir a chefia do 21ª Setor Conservacionista do Departamento de Defesa do Solo da Secretaria da Agricultura do Estado de Pernambuco. Inicia a construção da 21ª Residência Agronômica, que em nada deixa a merecer como obra de engenharia moderna, e por questões alheias àsua vontade, não a viu concluída. É convocado para dirigir a Diretoria de Produção Vegetal, em seguida a Diretoria de Proteção ao Solo, e afinal assume a Direção do Departamento de Açudagem, órgão em que se desdobra na ação de retribuir a confiança que lhe fora depositada, construindo do agreste ao sertão, grande número de açudes, cuja feitura obedecia a sua orientação e assistência técnica.
Paralelamente a toda essa maratona de compromissos, ainda se preocupava com a juventude estudiosa de sua terra, que tinha que se deslocar para estudar em outras cidades, criando-se uma grande dificuldade para as pessoas carentes e sacrificadas, em sua maioria. Juntamente com outros abnegados conterrâneos e amigos, como Jaime Justiniano Santana e José Oscar deAndrade, não medira esforços para, unidos, fundarem o famoso Ginásio CNEG -Maciel Pinheiro, onde era professor de Matemática e Desenho. Pactuava do pensamento do filósofo Jaques Marriten “A finalidade essencial do ser humano consiste na dignidade e nas realizações do conhecimento e da inteligência”.No auge das suas realizações profissionais e pessoais, parte inesperadamentedesta vida.
Diz o brocado chinês: Cada pessoa nessa vida ao passar deixa algo de si. Uma simples árvore que se planta. Quem não o fez até agora, jamais o fará.Gil Rodrigues deixou sua árvore plantada.

Maceió, 17 de setembro de 2006.

Vasco Rodrigues dos Santos

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